ID_000732
- Título genérico
- Concerto de anjos
- Suporte
- Azulejo
- Data de criação
- Primeira metade do século XVIII (c. 1735)
- Instituição
- Colégio dos Jesuitas, Igreja de São João Evangelista.
- Localização actual
- Coro alto da Igreja do Colégio, São Pedro, Funchal
- Descrição
- Neste silhar de azulejos, azuis e brancos, está representado um dinâmico 'ensemble' com treze ‘putti’, alados, gorduchos, desnudos e cabelos encaracolados, seguindo anatomia barroca. Encontram-se suspensos sobre nuvens agitadas pelas suas formas arredondadas. Dois ´putti´ têm uma faixa de tecido drapeada e com nós, acentuando o seu movimento, e outro, no terminus do painel, no lado direito, seguindo a leitura do observador, apresenta-se alado, vestido, de pé e de costas para o público, assumindo a posição de maestro e regendo o grupo de músicos e cantores (´putti´), embora ligeiramente cortado devido à incorreta colocação dos azulejos. No lado oposto, da esquerda para a direita, observamos um ´putto´ tocando cistre e outro, logo abaixo, mostra uma partitura; seguem-se outros dois, um organista e outro segurando partitura; um outro toca charamela, dirigindo o som em direção a quatro (cantores?), sendo que três têm partituras nas mãos; novo grupo de dois apresenta um tocando trombeta barroca, enquanto o outro exibe uma partitura; terminando o painel está um ´putto´ tocando charamela e o que ordena o concerto, já referido. Dispersos na parte superior da composição e entre nuvens, nove ´puttis´ (cabeças e asas) contribuem para o preenchimento do espaço visual, num acentuado ´horror vacui´ (horror ao vazio). O emolduramento e cercadura deste painel são ricamente ornados com festões de flores, no friso inferior, estando no centro um ´putto´ (cabeça e par de asas) integrado numa decoração em Ss, volutas e folhas de acanto/elementos vegetalistas, formando uma cartela, figurino que se repete nas colunas laterais, seguindo estética barroca, e cujo modelo é repetido em todos os painéis deste coro. O friso superior, ao centro, é preenchido com partitura, trombeta, violino, harpa, guitarra, cordofone dedilhado, oboé e charamela, e nos lados duas pequenas trombetas cruzadas (pequenos instrumentos de
sinal?). Atualmente, o órgão colocado no coro alto oculta parte do centro deste painel azulejado
- Instrumento(s)
-
- INS_SH – Participantes
- 321.322; 412.132-6-9; 422.112.1; 422.112.2; 423.121.22
- Bibliografia
- CALADO, Rafael Salinas, 1999, Azulejaria na Madeira e na Casa-Museu Frederico de Freitas, Funchal, DRAC, pp. 28-31.
CARITA, Rui, 1988, O Colégio dos Jesuítas do Funchal - Memória Histórica, Vol. I, Funchal, Governo Regional da Madeira / Secretaria Regional de Educação.
ROCHA, Luzia Aurora, 2012, O motivo musical na azulejaria portuguesa da primeira metade do século XVIII, Tese de Doutoramento, NOVA FCSH. https://run.unl.pt/handle/10362/7369
ROCHA, Luzia Aurora, 2015, Cantate Dominum: Música e Espiritualidade no Azulejo Barroco, Lisboa, Edições Colibri, Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical - Universidade Nova de Lisboa.
SANTOS SIMÕES, 1963, Corpus da Azulejaria Portuguesa: Azulejaria Portuguesa nos Açores e Madeira, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, p. 175.
SANTOS SIMÕES, 1979, Azulejaria em Portugal no século XVIII, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian; IDEM, 1997, Azulejaria em Portugal no século XVII, 2.ª ed., revista e atualizada, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian (2 vols.).
SANTA CLARA, Isabel, 2008, “Olhar a música: uma perspectiva sobre a iconografia musical na Madeira”, in MORAIS, Manuel, A Madeira e a Música, Funchal: Funchal 500 Anos, pp. 162-168.
- Notas
- Emolduramento
Trombetas
Violino
Harpa
Guitarra
Cordofone dedilhado
Oboé
Charamela
- IconClass DescCena ID
- 11G21 Anjos cantando, fazendo música; 48C77 Maestro
- Observações
- Painel
Cistre: Cordofone dedilhado com dimensões e morfologia correta (caixa de ressonância, braço, cravelhame, boca, barra). Relativamente às cordas, os modelos mais usados no Barroco tinham seis ordens de cordas, numa mistura de cordas simples e duplas. Neste instrumento, em particular, contamos seis cravelhas no cravelhame, mas o número de cordas não é coincidente (oito?).
Órgão Positivo: Aerofone com inúmeros problemas de representação organológica. O instrumento aqui representado consiste apenas num móvel (caixa) – onde eventualmente estariam protegidos os foles e inseridos o teclado e a pedaleira. Por cima da caixa estão colocados dez tubos com dimensões, em crescendo, sugerindo uma progressão em escala, mas sem qualquer apoio/suporte ou integração real no instrumento, parecendo estar a pairar em suspenso.
Charamela: Aerofone de tubo cónico com orifícios, que aqui não estão corretamente distribuídos. Na embocadura é visível a ‘pirouette’, onde assentam os lábios do anjo músico. Numa segunda charamela aqui representada não são visíveis orifícios.
Trombeta: Aerofone, modelo típico do Barroco, com uma volta de tubo terminando em campânula. Vários anéis metálicos são usados como pontos de fixação e reforço. A posição de execução é pouco usual, certamente porque o interesse do artista em mostrar o anjo se sobrepôs à comum posição do instrumento direcionado para a frente.
b) Emolduramento (cercadura)
Trombetas (a): Pequenas trombetas naturais de tubo reto. Pela sua simplicidade, aparentam mais serem instrumentos de sinal, do que destinados à prática performativa.
Trombeta (b): Instrumento natural barroco com uma volta de tubo.
Violino: Instrumento morfologicamente bem representado, apenas com as aberturas em ff mal colocadas. O arco tem forma convexa, típica deste período.
Harpa: Harpa barroca de pequenas dimensões. O facto de o violino lhe estar sobreposto não permite saber o número exato de cordas.
Guitarra: Instrumento barroco com quatro ordens de cordas estando parcialmente visível. O cravelhame é ligeiramente dobrado.
Cordofone dedilhado: Instrumento parcialmente visível com caixa de ressonância pequena, mais coincidente com a de um cistre, mas com caixa abaulada, como o alaúde.
Oboé: Visível apenas a parte final do tubo, com a ‘fontanelle’ e a campânula.
Charamela: Visível apenas a campânula.