ID_000666

Título próprio
Coisas da Semana: a viagem Imperial
Autor/Criador
BORDALO PINHEIRO, Rafael
Suporte
Papel
Data de criação
25 de Dezembro de 1875
Técnica
Litografia
Lugar de criação
Rio de Janeiro
Localização actual
Hemeroteca Digital - Biblioteca Nacional do Brasil
Descrição

Caricatura de duas páginas centrais, com o título “Coisas da Semana: a viagem imperial”,  publicada no dia de natal de 1875 no periódico O Mosquito (Rio de Janeiro/Brasil), composta de duas partes, uma assinada por Bordalo Pinheiro [Coisas da Semana] e outra por Candido Faria [A viagem Imperial]. A totalidade do desenho é extremamente complexa, apresentando vários detalhes, ornamentos, personalidades, personagens e assuntos em pauta naquele momento, tendo como temática principal a política, trazendo apenas alguns detalhes que se caracterizam especificamente como iconografia musical. Em termos gerais,  ao centro está localizada a parte de autoria de Candido Faria que constitui-se como uma espécie de “janela indiscreta” que dá acesso aos aposentos de D. Pedro II, permitindo observá-lo arrumando as malas para a viagem que irá realizar aos Estados Unidos em 1876, de costas para alguns problemas que colocavam o Império em crise, dentre eles uma imagem de uma caixa-surpresa aberta, com um homem negro saindo da caixa onde está escrito: “elemento servil”. Todo o restante do desenho consiste na parte de autoria de Bordalo Pinheiro. Algumas figuras representadas mais de uma vez em outras caricaturas publicadas anteriormente novamente se repetem, enfatizando a crítica a determinados pontos, como por exemplo, a constante ideia de decadência da cultura e das artes no Brasil associada à censura oficial realizada pelo Conservatório Dramático, ilustrada diretamente pela figura do seu do presidente, João Cardoso de Menezes e Souza  e, indiretamente, pelo Chefe da Polícia da cidade do Rio de Janeiro, Miguel Calmon Du Pin e Almeida; responsável pela repressão à tentativa de estreia da peça “Os Lazaristas”, na cidade do Rio de Janeiro, em 12 de outubro de 1875 – tendo agora como elemento novo a própria figura do autor da peça, o português Antônio Ennes, espicaçando com “o alfinete aguçado dos lazaristas o ouvido do João Censura”. Outras figuras repetidas são dom Vital, bispo protagonista da “Questão Religiosa”, e o fundador do periódico conservador católico “O Apóstolo”, Monsenhor José Gonçalves Ferreira, representando a crítica à Igreja como símbolo do atraso. Quanto à música, a sua primeira representação localiza-se na margem lateral da página direita, no desenho de uma árvore de natal que tem na altura dos seus ramos superiores uma cena referindo-se às discussões sobre a política de imigração no Brasil e, exatamente na sua parte inferior, ao redor do seu caule, um grupo de crianças nuas dançando de mão dadas, sendo uma delas negra. O segundo momento situa-se na parte central página da esquerda, na figura do escritor Machado de Assis, segurando na mão direita um bouquet com flores apresentando o rosto de cada uma das personagens retratadas em poemas que fazem parte do livro que o autor acabara de lançar, chamado “Americanas”, e na mão esquerda um instrumento musical, a Lira. A margem direita dessa página contém uma coluna de ramos de café dedicada ao teatro. Em um desses ramos, quase de frente para ao desenho de Machado de Assis, registra-se a figura um ator interpretando Peri, personagem da ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes. No ramo mais baixo, registra-se a figura do ator, encenador e empresário teatral português Actor Vale, segurando também um bouquet, em uma posição de agradecimento à plateia. Por fim, novamente na parte central da página, também logo abaixo de Machado de Assis, aparecem três personagens simbolizando a Igreja católica, dançando, comemorando a infalibilidade do poder papal, trazendo novamente à tona a “Questão Religiosa”.

Instrumento(s)
Bibliografia

ALONSO, Ângela. Ideias em movimento: a geração de 1870 na crise do Brasil Império. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 2002.

SOUZA, Silvia Critina Martins de. Um atentado à liberdade de pensamento: censura e teatro na segunda fase do Conservatório Dramático Brasileiro (1871-1897). TEMPO. REVISTA DO DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DA UFF , v. 23, p. 43-65, 2017.

Pessoas/Entidades