ID_000657

A Tragicomédia Pastoril da Serra da Estrela é uma peça de teatro de Gil Vicente apresentada no Verão de 1527 à corte do rei D. João III, por ocasião da comemoração do nascimento da infanta D. Maria. A cena escolhida tem uma relação directa com a vila para a qual Gabriel Constante realizou a encomenda: Jorge e Lopo, dois bailadores e foliões do Sardoal, dialogam com a personagem feminina principal, a Serra. Esta inicia o diálogo perguntando: "Sois vós de Castella, manos, Ou lá debaixo do extremo?" a quem Jorge replica "Do Sardoal (...) Vimos ca desafiar A toda a Serra d'Estrella A cantar e a bailar". Segue-se uma espécie de disputa entre os do Sardoal e os pastores em que "Canta Lopo e baila arremedando os da Serra". O diálogo evolui para a citação que temos na base do painel. Diz a Serra: "Peco-vo-lo que canteis A' guisa do Sardoal" respondendo Lopo "Esse he outro carrascal; Esperae ora e vereis". No centro da composição do painel está a personagem Serra da Estrela e o próprio autor da peça, Gil Vicente, em diálogo. Ao lado da Serra temos Gonçalo (pastor), Joane (o parvo), um cão de raça Serra da Estrela e cinco ovelhas a pastar. Do lado de Gil Vicente, os dois foliões do Sardoal, Jorge e Lopo, que, sentados, tocam dois cistres. Um deles canta. É ainda de realçar a serra representada em segundo plano, ao centro da composição. O emolduramento é um palco teatral, com cortina e holofotes, com elementos evocativos do barroco joanino.